quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pelo fim das coisas

Chega, cansei de entrar aqui, olhar o último post e, simplesmente sair fora. Acabou já faz um tempo o meu ânimo para colocar essas coisas aqui. Mas acho que as coisas devem chegar em algum lugar, às vezes. Chego, portanto, ao fim do blog. Não disse o fim do livro, esse continua tomando corpo, letra por letra, sofrido, mas determinado. Abraços. FIM.

sábado, 26 de setembro de 2009

O dia depois de hoje

Vamos, pois, aproveitar esse final de setembro para retomar o ritmo e voltar aos posts mais frequentes. Diários eu, definitivamente prometo não mais prometer.
Tempos atrás me atrevi a falar do tempo, pedi penico para Santo Agostinho e creio ter-me saído bem, pela tangente, mas em bom estilo. Penso que a noção de tempo seja um dos grandes problemas dos homens, em particular a noção de futuro. O que virá amanhã? E tomem preocupações. Por que diabos não fazemos como os animais que, simplesmente, vivem o presente, sem, nem mesmo, terem a menor noção do que seja o presente. Simplesmente vivem.
Pensar no amanhã é antecipar problemas. O que vou comer amanhã? Terei trabalho? Conseguirei meu sustento? E toda a atenção e energia se voltam para um tempo que sequer sabemos se, de fato, chegará. É o hoje que importa, esse minuto, e não o dia depois de hoje.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O de setembro

Meus posts diários passaram ser a semanais e agora me dou conta que se tornaram mensais. Vergonha?! Nem sei bem o que é? Falta de determinação talvez. Mas aqui estou, levando, empurrado por ventos brandos, quase sopros, dos amigos sempre fiéis. Quem sabe outubro não traga de volta o vigor inicial? Eu não apostaria.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

HD 2

Me ligaram hoje à tarde, depois do meu cochilo é claro. Era da empresa especializada em recuperação de HD. Quanto frieza. Esperava palavras de consolo, comiseração, afago. Essa coisa toda é culpa do marketing: eficiência, eficácia, atendimento impecável. À merda com isso! – Sr. André, favor entrar em nosso site, preencher o formulário de ocorrência, imprimir o relatório que receberá por email e anexar ao HD, que deve ser encaminhado a nosso laboratório.
Desisti. O que perdi, perdido está, foda-se. Faço de novo, melhor.

A chuva

Chuva em agosto é novidade. A essas alturas deveríamos estar amargando já uns tantos dias sem chuva, muita poeira, doenças respiratórias, alergias, falta de ar e o caralho a quatro. Hoje mesmo não me conformei com a situação e, passado o empanzinamento do almoço, fiz valer minha condição de revoltado e, ali pelas 14h30, cerrei as venezianas do quarto, me enfiei por debaixo das cobertas e dormi. Sim, por pura indignação com essa chuvinha banzenta, dormi por um par de horas e uns tantos minutos mais. Acordei com aquele gosto de vingança na boca, nem pasta de dente conseguia arrancar o ranço. Tive mesmo que apelar para o kit glicose - um sonho de valsa amolecido por um copo de guaraná. E um arroto, claro, para selar aquele momento vingativo.
Se essa chuva safada persistir, amanhã tem mais. Ara, se não!!!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

É possível formatar um HD sem querer?!

Ainda tento entender o mal que me acometeu para que eu fizesse tal insanidade. Formatei, sim. Num desespero de madrugada com meu MacBook Pro, fodão. O sacana travou depois de uma tentativa frustada de atualização do seu sistema operacional por uma versão mais recente, piratona, confesso.
Aí, como diria meu amigo Fayad, rolou uma parada sinistra, e deu tudo errado. Tentei voltar ao estado anterior, de muita calmaria e felicidade mas, eis que, vesgo de sono e traços de álcool consumido no seio do lar, autorizei a formatação do peste. Só percebi no dia seguinte, minutos antes de uma aula que estava toda composta no meu finado HD.
Pânico, náuseas, suei cubos de gelo. Xinguei horrores, metros além dos habituais caralho, porra, puta-que-pariu.
Acabei de escrever um e-mail para um empresa especializada em recuperação de dados. Aguardo, já sem unhas, por uma resposta.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

De volta às plantas

Não é que as plantas têm-se revelado uma atividade terapêutica proveitosa? O problema é ter que compartilhar com outros seres, um tanto indesejáveis. Em verdade nada tenho contra formigas e cupins, nada tenho vírgula, desde que os referidos meliantes não se metam nas minhas cercanias. Pois foi exatamente assim que acabei arrumando dois grupos de ferrenhos desafetos.
As formigas, sacanas, atacam à luz da lua, minhas mudas recém adquiridas e destroem tudo de uma lapada só. Outro dia ganhei de amigos uma muda de Noni. Confesso que sei pouco sobre a espécie, nada além da lembrança de meus pais gastarem uma pequena fortuna na aquisição de garrafas de suco da fruta (se aquilo for fruta). Coisas da moda geriátrica, num dia é Noni, noutro confrei, foi assim com acerola, com barbatana de tubarão e outras tantas que a idade não me permite lembrar.
Já os cupins, não bastassem os ataques subterrâneos às raízes das pobres plantas, resolvem fazer caminhadas noturnas, invadem o gramado e dificultam a captura das comparsas formicídeas. É que os nojentos, quando ameaçados, parecem cães de guarda, disparam ferroadas para todo lado. Não aliviam nem as sandálias Havaianas.
E eu que reclamava da cantoria das pobres cigarras.

Projetos insólitos

Juntei-me a quatro outros desmiolados (dois, pelo menos) e resolvemos criar um projeto onde pudéssemos exercitar nossas habilidades com as linhas e com as cores e dar forma às nossas ideias e desvairanças. Desenhos, palavras, rabiscos, borrões. Vale tudo, inclusive dançar homem com homem e mulher com mulher. Deviam tratar os loucos, não com choques elétricos e barbitúricos, mas com lápis e papel. Em nosso caso tem sido providencial, os acessos de loucura convertem-se em desenhos inimagináveis. A coisa toda surgiu durante uma rodada de cerveja gelada e petiscos árabes no Beirute, tinha que ser, melhor lugar não há.
Mas o que é afinal o projeto?! Segredo de estado, por enquanto. Saberão quando for a hora, e se esbaldarão.

sábado, 1 de agosto de 2009

Agosto promete.

Plantas

Passei tarde dessas metido com as plantas. Dei por mim que uns tomateiros semeados tempos atrás tinham dado para amarelar as folhas. Plantei os danados na galega: catei um tomate já meio nauseabundo, esmaguei o peste e arranquei-lhe as vísceras, na ponta da faca. Deixei que, durante dois dias, o sol lhe esturricasse as sementes e lancei-as à terra. Pareceu vingança, as malditas germinaram e me mostraram quem é que manda. Temo em comer os frutos que virão, puro veneno. Compadeci-me. Transplantei, adubei, me fiz de deus separando as plantas que acreditava não teriam chances de sobreviver e, por fim, mandei água. Seguem firmes, decretamos trégua às rusgas que nos afastavam.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Coragem

Faltou coragem. Não no sentido que se atraca com a covardia, mas no sentido de determinação. Não do livro, mas do blog. Continuo na tarefa da escritura mas posts diários no blog dão um trabalho grande, árduo. Faço um monte de outras coisas e quando me livro delas quero fazer o outro monte de coisas que separo do primeiro monte. Um monte para a sobrevivência, trabalho, salário, com prazer, mas com horário e lugar para acontecer. O segundo monte sou eu quem manda, faço quando quero. Desfaço. Faço de outra maneira. Achei que o blog começou a entrar para o o primeiro monte, então parei. Mas volto, hoje, amanhã quem sabe. E assim vamos, fazendo e desfazendo um monte de coisas, ou montes de montes de coisas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O tempo

Me propus algo complexo: escrever sobre o tempo. Mas afinal o que é o tempo? Essa noção métrica que usamos para algumas coisas não dá conta do tempo. Intervalo entre um evento e outro? Mas que eventos? Eventos pessoais, locais ou globais?
Santo Agostinho diria: Se não me perguntarem, eu sei o que é. Se tiver de explicar para alguém, não sei. O problema é que o passado não está mais aqui, o futuro ainda não chegou e o presente voa tão rápido que parece não ter extensão alguma. Aliás, se o presente só surge para virar passado, não daria pra dizer que o tempo é uma caminhada rumo à não-existência?

Resolvido. Eu iria falar sobre o tempo, mas isso é passado, já era.

Questão

O que será dos pássaros quando os ventos não soprarem mais?

sábado, 4 de julho de 2009

Escrever ou ler?

Passei os últimos tempos lendo como um desesperado. Agora enfrento uma situação que me divide: ler ou escrever? Entendo que um não impede o outro mas acontece que, se eu não me dedicar ao propósito da escrita em detrimento da leitura, essa porra não vai para frente. Olhando, porém, para o outro corner percebo que a leitura me auxilia, me inspira e torna a escrita mais fluida e mesmo mais consistente. Fudeu. 
Vou parar por aqui que tenho uma leitura por terminar, aliás estou no sexto dos seis capítulos. Como diria Pisti, o filho de Krista: mortífero!

terça-feira, 30 de junho de 2009

Enfim o livro

Não sei se deu para perceber, aliás não sei mesmo se alguém lê essas linhas que escrevo, mas Por detrás dos livros é meu livro. Talvez o título seja ainda provisório mas a história está traçada. A surpresa fica por conta de eu não mais publicar os texto que são parte do livro, vou publicar outras coisas, outras palavras. Pode ser que isso também seja provisório, mas no momento prefiro me recolher a uma escrita solitária até que a coisa toda esteja mais desenvolvida. Não sumirei, continuarei firme no propósito (despropositado no momento) de publicar posts diários. 

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Por detrás dos livros 4

Começaria, pois, por onde se deve, pelo começo. Antes, porém, era necessário saber quanto tempo eu teria para a leitura. Queria ler ao mesmo tempo que Laura, assim imaginava. Invadiríamos o espaço narrativo num só pensamento e, quem sabe, viveríamos juntos as emoções da leitura.
Entrei no sistema da biblioteca, cujo acesso me era franqueado com a senha de meu supervisor, aquele merda que cagava regra por onde passava e que era sistematicamente sacaneado e boicotado por todos. 
Laura A. Moraes estava matriculada sob o número 90/08446 na habilitação de Programação Visual do curso de Desenho Industrial. O sistema me dizia, ainda, que ela morava na última quadra da península norte, bairro de bacanas não tão bacanas quanto os do Lago Sul, mas efetivamente mais bacanas que eles. Por fim, tive acesso às disciplinas que Laura estava matriculada, com requintes de crueldade que me permitiam saber uma a uma quais eram as salas espalhadas pelo campus da Universidade de Brasília que ela estaria frequentando cada dia da semana. 
Fiz logoff no sistema após verificar que Laura Moraes teria quinze dias para devolver os livros e que eu tinha que me adiantar na leitura.
Foi o saco de lixo mais farto que revirei nos últimos tempos.

sábado, 27 de junho de 2009

a mancha que me redime

Por detrás dos livros 3

Resolvi então revirar o lixo de Laura. Ler sua lista de livros, ou parte desses, para tentar entender um pouco mais daquele ser que tanto me encantava. A cada leitura nutrientes são absorvidos pelo corpo mental e armazenados em nossas memórias de curto, médio e longo prazos. De acordo com as necessidades futuras esses blocos informacionais são recuperados de nosso hard disk. Somos, portanto, constituídos de tudo que vemos, que ouvimos, que  cheiramos, que pegamos, que comemos e, claro, que lemos ao longo da vida.

Com Laura não seria diferente e entrar em seu universo de palavras seria entrar em sua mente e, o que mais me excitava, entrar em seu corpo idílico.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Por detrás dos livros 2

A lista de livros de Laura me atraiu a atenção por ser breve mas ao mesmo tempo intrigante. Os livros da biblioteca geralmente são emprestados para finalidades distintas. Uns, retirados por bandos ruidosos, para atender às demandas criadas pelos professores dos mais diversos cursos. Para resolver problemas de provas, trabalhos práticos, seminários. Outros, em menor volume, se prestam ao entretenimento de seus leitores. Diversão, fruição, deleite. Os do primeiro tipo são geralmente maltratados e surrados, enquanto os outros, emprestados unicamente por vontade de seus leitores, são limpos, bem cuidados e, por vezes, até carinhosamente restaurados.

A lista de Laura reunia, estranhamente, as duas coisas:

 

O velho e o mar, de Ernest Hemingway;

Atlas de Anatomia Humana, de Henry Gray;

La musica de Julia, de Alicia Steimberg.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Das coisas absolutas

"Tudo o que é sólido se desmancha no ar"

– Manifesto Comunista
Marx e Engels

terça-feira, 16 de junho de 2009

Olha a proa

Remar. É o que tenho feito em boa parte de minhas tardes vazias. Iniciei-me na atividade há pouco mais de quatro meses mas já tripudiaria de McLuhan sugerindo o remo como extensão do homem. Desanuvia. Liberta. É a busca pelo equilíbrio. Até porque sem ele a porra do barco vira.
Outro dia vi numa camiseta que trazia a imagem de três potes de pílulas – tranquilizante, viagra e analgésico –, a frase "a felicidade é química". Remar é melhor, só desconheço se produz resultados contra casos de disfunção erétil. Quem sabe num doble, aqueles barcos para duas pessoas? Ou dos maiores, para quatro, seis ou oito remadores. Uma puta suruba.
É só você, o barco e o lago. Sem rumo, sem hora pra chegar, num tempo medido não pelos ponteiros do relógio, mas pelo tensionamento dos músculos, um tempo orgânico, de dentro. 
Cada movimento é refletido no equilíbrio do barco, seja um canoi, um mini ou um longo skiff de fibra de carbono, leve, cortante. 
Navegar é preciso, viver não é preciso. E eu preciso remar para me manter não preciso.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Filhotes

Temos em casa um casal de cães. Duvido muito que vira-latas possam ser chamados de cães, acredito que chamá-los de cachorros seria mais honesto. Temos, pois, dois cachorros, um filho do outro, aliás, da outra. Brancos, encardidos, de pelos enrolados, dóceis, ela mais que ele. O resultado de deixar animais consanguíneos convivendo no mesmo espaço durante aqueles períodos férteis, para ser ameno, é uma sessão explícita de atos incestuosos, uma cachorrada só. O fruto dos múltiplos atos pecaminosos: 7 filhotinhos, lindos, brancos, saudáveis. A mãe, em sua manifestação máxima de liberdade animal, cavou um profundo buraco em nosso gramado, próximo ao muro que nos separa de uns vizinhos cuja espécie animal desconheço, e lá depositou em noite de lua cheia seus 7 rebentos. Sozinha, sem anestesia, sem panos limpos, sem ocitocina, sem U.T.I. pós natal, sem porra nenhuma. 
Nomes. Os bichinhos precisavam de nomes. A supremacia masculina, pelo menos quantitativa, se fez presente na goleada de 6 x 1 para os machos. Começamos, democraticamente, e a enxurrada de asneiras não teve mais limite. Por fim os nomes, ou quase isso:
1. Bauduco (não recebemos e não pagamos royalties); 2. Doggy; 3. Chedar; 4. Lili (a menininha da turma); 5. Zé Ovo; 6. Bode e 7. Lex (é o mais calminho).
Sobreviventes, sabem o que é ter que se virar. O resto é perfumaria.

domingo, 14 de junho de 2009

Domingo de porco

Em minha família cultivamos a tradição de criar certos apelidos para pessoas, situações, eventos insólitos, enfim para coisas que mereçam uma denominação além da que lhe compete sua acepção ordinária, habitual. Já demos novos nomes para pessoas, baseados geralmente em características físicas ou comportamentais. O professor de piano de minha filha, cujo nome permanecerá em sigilo, é de baixa estatura. Muito baixa mesmo, baixa o suficiente para chamar a atenção e para render-lhe um codinome: mini-kleiton (lembro que esse não é o verdadeiro nome). Mini-kleiton normalmente chega à escola de música após chegarmos, eu e minha filha, e, em pelo menos duas dessas ocasiões, conseguiu atravessar o hall de espera onde estávamos, sem que percebêssemos sua entrada. Acredito que ele passe sorrateiramente por debaixo de nossas pernas para imputar a nós a responsabilidade pelo atraso. Hora dessas piso no calo dele. É, ele tem um calo na cabeça.
Zélia Gatai, no divertido Códigos de Família, narra com competência infinitamente superior à minha, os códigos criados por sua família para as "coisas", assim como fazemos em minha casa.
Aqueles dias, normalmente nos finais de semana, dedicados ao empanturramento coletivo, são chamados de dias de porco. Ontem foi um desses, e pior, com menu internacional.
O dia começou com um legítimo brunch americano, feito por um americano, com direito a milkshake e o caralho (não literalmente, por favor). Lá pelas 14h30, fornidos de omeletes, torradas, e mais uma renca de coisas, partimos para um pequeno restô de amigos gaudérios. Em verdade o chef é um uruguaio bom entendedor de carnes e de como assá-las. Outra sova.
Como as leis da física não permitiram a sobreposição de dois ou mais corpos em um mesmo lugar do espaço, o lanche da noite foi encabulado: sopa com torradas. Mas o domingo, em seu saldo de gols, foi de porco. E porco dos grandes.

sábado, 13 de junho de 2009

Ratos

"(...) É cada vez mais difícil presentear. Onde ainda sobre algum espaço? Ah, que desgraça, não saber o que mais desejar. Tudo foi realizado. O que falta, dizemos, é a carência, como se a quiséssemos transformar em desejo nosso. E continuamos presenteando sem piedade. Ninguém mais sabe o que quando de quem lhe demonstra afeto. Sentia-me saciado e carente quando, indagado, pedi um rato de presente de Natal."
– A Ratazana, Günter Grass

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos Namorados

champagne, jantar, presentes, sorrisos, sexo, ressaca, culpa, contas, tédio; vodka, jantar, presentes, sorrisos, sexo, ressaca, culpa, contas, tédio; caipirinha, jantar, presentes, sorrisos, sexo, ressaca, culpa, contas, tédio; cerveja, jantar, presentes, sorrisos, sexo, ressaca, culpa, contas, tédio; cachaça, berros, tapa na cara, ressaca, alívio e fim.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Leitura



Como se faz para escolher as próprias leituras? Não aquelas que nos obrigam os afazeres escolares. Mas aquelas voluntárias, escolhidas. Durante um tempo eu comprei livros por conta de suas capas. Idiota, mas sou designer e me parecia um indicativo de boa leitura algo que se protegesse ou se mostrasse na forma de uma bela capa. Também discos eu comprei assim. Confesso, eu ainda compro discos, cds. Resolvi considerar além da casca e passei a me informar sobre a possibilidade de boa leitura em artigos da crítica especializada. Confesso que, a depender da crítica, minha técnica de apreciação das capas promovia resultado mais consistente. A etapa seguinte foi ler o que me aparecesse pela frente e a própria leitura daria conta de separar, ainda nas primeiras páginas, os bons dos maus. Gostei do resultado e isso me exigia mais tempo dedicado a ler. Hoje tento ler três livros de uma única vez, intercalando-os. No momento são A cidade ilhada – Milton Hatoum; Trilogia suja de Havana – Pedro Juan Gutiérrez e (a releitura de) Memórias do Cárcere – Graciliano Ramos. Se misturo as narrativas? Geralmente não, mas quando acontece não é de todo mal. Em verdade os três foram momentaneamente  trocados pela leitura dos manuscritos do romance de um amigo. Promissor.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Por detrás dos livros

Como me era de costume, recolhi da impressora a segunda via do recibo de empréstimo para analisar os livros que Ela acabara de emprestar da biblioteca. Me sentia como que revirasse os sacos de lixo deixados pelos vizinhos com a intenção de reconhecer nos resíduos abandonados seus hábitos de vida. O máximo que consegui revirando sacos de plástico azul transparentes foi saber quando a vizinha estava menstruada, quanto pediam de comida chinesa ou se alguém estava desarranjado. Não necessariamente nessa ordem.

Os livros não. Esses me sussurravam sobre o estado de espírito de seus leitores. Me entregavam paixões secretas e mágoas profundas. Me confidenciavam, como quem precisa de um cúmplice, a respeito de intenções perversas, de traições. Davam pistas sobre as diferentes mãos que os manusearam e passaram suas páginas. Dedos finos, longos e brancos, como os de uma pianista que acaricia e transfere calor para o frio marfim das teclas de um piano de 1/4 de cauda Zeitter & Winkelmann. Dedos curtos e de unhas roídas capazes de operar milagres com uma lapiseira Pentel 0,9 sobre o papel macio de um moleskine capa dura. Dedos sujos, com pó de carvão, cheiro de verniz fixador e restos de tinta sob as unhas mal aparadas. Dedos aristocráticos, hidratados, com unhas pintadas a esmalte claro e pontas francesas, sem calos, sem manchas, sem vida.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Evaporar

"[...]

O rio fica lá
A água é que correu
Chega na maré
Ele vira mar

Como se morrer
Fosse desaguar
Derramar no céu
Se purificar

Ahh deixa pra trás
Sais e minerais, evaporar!"

– Rodrigo Amarante

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Coisas sábias

"Por que cargas d'água os cabelos que cresciam na cabeça agora crescem nas orelhas?" – superguidis

domingo, 7 de junho de 2009

+ coisas

Nasci pro mar 


Me falta o ar,

Nasci pro mar.

Saltei do cais,

Senti os corais.

 

O azul tingiu,

Perdi o navio.

Subiu a maré,

Vem, iemanjá.

 

Nasci e morri,

no mesmo dia em que vi o mar.

 

Fugiu a areia,

Ouvi a sereia.

Provei do sal,

Fiquei sem nau.

 

Nublou-me o sol,

Sem nem farol.

Me falta o ar,

Morri no mar.

 

Nasci e morri,

no mesmo dia em que vi o mar.


Siul Rasec (14.06.2007)

sábado, 6 de junho de 2009

Coisas

Meu Neto

Passavam das oito da manhã quinze minutos quando o telefone chama e do outro lado meu segundo filho me surpreende com a notícia de que meu primeiro neto acabara de nascer. O escroto, não do meu neto, mas do meu filho, mas não o escroto de fato e sim a escrotice, fez com que ele e minha nora, que nesta época andava às voltas com exercícios de yoga e técnicas de acompanhamento do trabalho de parto, resolvessem toda a tensão do momento com uma calma samaritana. Meu filho, não bastasse ter assistido tudo de perto, ainda garantiu a integridade física de minha nora e de sua dignidade. O mesmo filho que desmaiou ao ver uma incisão de pouco mais de um centímetro de largura na pata de uma cadela pastor alemão que tivemos.

Meu neto nasceu com problema com o escroto, não meu filho, mas com o escroto mesmo. Tinha líquido acumulado no saco e antes mesmo dos seis meses todas as previsões pessimistas dos médicos a que consultamos na época foram dissipadas e esquecidas. Era o primeiro filho de meu filho, meu primeiro neto, o primeiro bisneto de minha madastra e provavelmente o primeiro acontecimento importante dos melhores anos de minha vida.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Paraíso I

Um caminho indecifrável aquele, e nos conduziu a um paraíso que irritava pela água salobre e pela falta de outros defeitos.
A estrada mal recapada atravessava um enorme labirinto formado por ruelas de piçarras que davam acesso à uma ruma de refinarias e bombas coletoras de petróleo que papocavam a cada curva.
Cabras. Era só o que se via por toda parte. Como se o caminho para o paraíso precisasse ser calcado por dúvidas e sofrimento. Uma resistência filha da puta aquela que se mostrava nas cabras, sobreviventes em um lugar tão agreste e tão ermo. Nem o ar se movia.
O asfalto grosso que fervia os pneus do carro nos levou, graças a truncadas orientações de dois matutos que nos surgiram na estrada tais como os cabras, a um fim de mundo onde quaravam, numa espécie de lagoa salgada, ondas espumantes e mal cheirosas.
Quando, de fato, nos encontrávamos no que só poderia ser a materialização do nada, e onde nada, nem mesmo o nada, nos surpreenderia, fomos forçados a dobrar os joelhos e reconhecer a pequenez da nossa imaginação. Um estacionamento, sem dono, sem cerca, sem guarita. No fim do mundo havia um estacionamento.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Desonra - J.M. Coetzee

[...]
Ele atravessa a sala. "Foi o último?", Bev Shaw pergunta.
"Tem mais um."
Abre a porta do compartimento. "Venha", diz, curva-se,abre os braços. O cachorro arrasta a parte traseira aleijada, fareja seu rosto, lambe sua face, seus lábios, sua orelha. Não o detém. "Venha."
Levando-o no colo como um carneiro, entra na sala de operações. "Achei que ia deixar esse para a semana que vem", diz Bev Shaw. "Vai desistir dele?"
"É. Vou desistir."


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Rotina

Por que será que o homem – sábio, desenvolto, poderoso – é o único da espécie animal que se submete à opressão da rotina?! Quem já viu um passarinho – que viva em liberdade, claro – cagar todo dia no mesmo lugar?! Ou comer, não quando sente fome mas quando alguém determinou que é a hora de comer. Ou se exercitar em hora e local determinados. 
Para aprender as coisas é preciso, diariamente e marcado pelo som de sirenes histéricas, enclausurar-se entre quatro paredes e um teto e um chão, sentar-se (afinal em outra posição o conhecimento se esvaece), fazer silêncio, não mover-se, não piscar, não emitir sons e, preferencialmente, não respirar.
E a rotina vence, escraviza. Há de se ter dia para ir ao supermercado, para estudar inglês e espanhol, para fazer as unhas e os cabelos, para ir ao cinema, para beber e para trepar. Normalmente com hora marcada também.
Mas é preciso rotina para que haja ordem no mundo. Mas e a ordem?! Subproduto da rotina ou seria o oposto? Deixa prá lá, tenho que sair agora pois às 16h30 começa minha terapia, às 17h20 tenho aula de música, e às 19h10...

terça-feira, 2 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Me anestesiei


Como é possível fechar os olhos e sonhar, sem sucumbir à fissura produzida pelas mazelas do mundo contemporâneo, pós-moderno, pós-humano e, muito provavelmente, sem hífen. Resolvi, pois, me anestesiar. Governador investigado por improbidade administrativa; General Motors – a ultra montadora americana – pede concordata; desaparece um airbus da AirFrance; gripe suína, aviária, bovina; queda de barragem no Piauí; incêndio em mina mata na África do Sul; militantes talibãs sequestram 400 no Paquistão; e sangue, sangue, sangue...
Deitado naquela cadeira/divã não hesitei: 
– Doutora, por favor, acabe com minha dor: anestesia, vai?!
E a dentista prontamente me atendeu.

domingo, 31 de maio de 2009

Gasolina

SEG. 06h30. O despertador, aquele mesmo que estava desaparecido há uns 3 meses, soou com certa delicadeza e me tirou do sono profundo, lançando-me num estado de letargia e depressão.
06h43. Acendo a luz do despertador pois, apesar de as venezianas de madeira estarem escancaradas, o horário de verão me faz levantar com as estrelas ainda visíveis.
06h45. Levanto fazendo a cama ranger e, após uma mijada ardida e a conta gotas, deixo a água morna do chuveiro me despertar a derme. Fecho a torneira e enrolado na toalha sigo até o quarto sentindo o ar frio me fechar os poros. Sem acender as luzes alcanço um par de meias e uma cueca e uma par surrado de jeans e uma camiseta cinza. Ela me observa sem se mover e com a respiração pesada de quem ainda deveria estar dormindo. Eu juraria que estava. Já vestido, com as chaves e o telefone celular em mãos, abro a geladeira e me sirvo um copo da garrafa de 1 litro de iogurte de morango. Bebo de um só gole, sinto náuseas e saio sem ter mastigado nada sólido.
07h03. Abro o portão da garagem pressionando o botão do controle remoto e entro no meu renault preto que, para meu completo emputecimento, não pega quando viro a chave na ignição. 

sábado, 30 de maio de 2009

O camelo e a flor

Um camelo alto e barbudo passeava pelo deserto. Em verdade o camelo se arrastava pelo deserto, usando as últimas reservas de água que sua corcova trazia, coisa de copo e meio desses pequenos de boteco. Desconheço a relação de consumo que um camelo consegue desenvolver, mas diria que aquela porção de água já era da reserva. E o diabo do camelo era desses parrudões, no mínimo 1.8, ou seja, bebia pra caralho. E o camelo seguia firme, em quinta marcha, quando percebeu uma pequena flor a coisa de 200 metros do ponto onde estava. Apontou o focinho em sua direção e partiu ainda mais rápido. Pensou que aquela florzinha frágil só poderia estar postada sobre um enorme manancial de água limpa e fresca, era sua salvação. Enganou-se. Era só areia, fina, seca e quente. 
– Como você consegue se manter incólume nesse deserto de ardor inclemente?! – desesperado, o camelo. 
– É fé. – em tom pueril, a flor . 
– Fé em que?! – e pensou no palavrão mais libertador, o camelo. 
– Na providência divina, e isso me enche de sentimento que se transfigura em água. – quase levitando, a flor. 
E o camelo, urdido em seu próprio desespero, escancara a boca e arranca, com os dentes que lhe restam, a pequena flor da areia. Mastiga calmamente, expondo a maior peculiaridade dos artiodátilos, sacia a sede de semanas sem água e resmunga, ainda com restos de pétalas na boca:
"e lá vai deus sem querer saber de nós
saibamos pois
estamos sós".

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vinho barato

Acabo de voltar do jantar de uma confraria da qual faço parte e que promove, regularmente, encontros mensais. Os comensais confraternizam-se, alcoolizam-se, riem-se e sorvem-se por trás de olhares fundos, inclusive para os fundos. É de praxe que os convivas assentem ao recinto de posse de uma (ou mais, preferencialmente) bebida que se harmonizará com o menu a ser ofertado pelo anfitrião da vez. Passo, a caminho do encontro, em uma delicatessen, ou seria um empório?! Não, passo mesmo numa padaria de nenhuma categoria e, na maior cara de pau, pergunto pela prateleira de bebidas. Resisti a solicitar a carta de vinhos, seria rudeza de minha parte. 
Corro a vista por três ou quatro garrafas de qualidade aceitável e escolho a mais barata, um Cabernet argentino. Apanho uma coca-cola de dois litros para as crianças e no balcão de salgados peço meia dúzia de pães de queijo. Estranho quando a balconista me pergunta, já ensacando meu pedido, se é para beber. Mas em segundos ela esclarece: – quando pede assim pouquinho é para criança. Então percebo que não era para beber e sim para bebê. Que culpa a minha.
Meu vinho é recebido como o destaque da noite, e guardado para ser servido após aquelas tantas garrafas de vinhos comuns. Todos, com exceção de um Marcus James malandrão, melhores que o meu.
O menu, aberto por rodadas de fondue, com intervalos para manutenção das traquitanas de cocção, é fartamente deglutido pelos confrades. Quando à altura dos serviços de sobremesa, meu vinho é aberto, não sem antes sofrer com a falta de habilidade no manuseio do saca-rolhas cibernético, e passo, então, a saborear uma taça do mesmo, evitando qualquer daquelas viadagens de avaliar a lágrimas do vinho, seu bouquet ou qualquer dessas merdas que o valha. Achei péssimo. Me levantei com a taça nas mãos, fui até a cozinha, derramei seu conteúdo na pia e, após um rápido jato d'água, enchi com a boa, velha e infalível coca-cola.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Golpe


Tenho que confessar que, apesar do pouco tempo desde que iniciei a empreitada, tive que dar uns golpes na atualização do blog. Posts diários dão um trabalho grande, aliás, danado. E acabei juntando uns posts no mesmo dia e trocando as datas de publicação. Foi fácil, mas prefiro confessar a malandragem. Era isso, confissão.

PS: Minha barba?! Sumiu. Um milagre chamado Mach3.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Por detrás dos livros 1

A senha, por favor. O silêncio que pairava opressor e abafado foi dissipado pelo som seco das seis teclas sendo pressionadas com rapidez por um único dedo da mão direita. Ela me dispensou um obrigado entre tímido e burocrático, recolheu os três títulos que pendiam sobre o balcão e me deixou a passos lentos e ruidosos. O solado de borracha de seus sapatos vermelhos crepitava contra o piso gasto de paviflex amarelado.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Outros sons

Contrabaixo suingado acompanhado de um duo vocal feminino, solos de guitarra e bases com pedal wah-wah. Cozinha marcada por batera percussiva. Repertório brasileiro com gana. Cerveja. Pão com pernil e carne seca. Cebola. Zonzeira. Assovios esparsos. Flashes invasivos. Mandioca frita. Vozes agudas, excessivas.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A morte em branco e amarelo

O branco dos cabelos escorridos que pendiam do topo daquele rosto plácido, que os males hepáticos tingiram de amarelo, encontrava um símile cromático nos chumaços de algodão que tapavam as narinas. Brancos também eram os lençóis curtos, infantis, que lhe cobriam parte de tronco e lhe expunham as veias e as manchas escuras e os pés inchados, disformes. Amarelos eram os rostos dos que lhe entoavam canções sacras e preces arrastadas, sentidas. Branco era o espaço imaginário, celestial, que os presentes reservavam para aquela que lhes deixara horas antes. Amarela, covarde, vil, abafada. Tão covarde que ela, a morte, não acompanha aquele que fenece, mas persegue aquele que permanece, sem norte, fodido.

domingo, 24 de maio de 2009

O tempo


Nada resiste ao tempo, nem os dentes.

sábado, 23 de maio de 2009

Sábado tem post?!

Pensei que, talvez, o blog devesse ter um dia de folga. Se for isso mesmo penso que o sábado seja um bom dia de folga. Garantia contra eventuais maus humores provocados por uma eventual ressaca. Mas o que fazer entre 17h e 21h, período imediatamente após aquele cochilo além da conta, resultado de duas ou três caipirinhas, meia dúzia de cervejas long neck e uma lapada de feijoada. Cá estou, oco, como se os pensamentos todos tivessem se esvaído na longa mijada pós bode. De rabo de olho leio no jornal sobre a mesa que morreu Zé Rodrix. O cara me perseguiu nos últimos dias com sua (e de ilustres colegas) composição "Mestre Jonas". Lisérgica, rural-eletrificada, e sobretudo, preguenta, daquelas que colam e que a gente não pára de cantar durante dias. Meus alunos incrédulos que o digam.
Vou procurar um resto de ovo de páscoa que me livre dessa lembrança amarga que a mistura feijoada + cochilo me pregou na boca.
Salve Zé.
ps: mudei de idéia, sábado é ótimo dia para expurgar umas palavras.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Coisas que escrevi


Meu irmão

Eu tinha lá pelos meus três ou quatro anos quando reparei pela primeira vez que meu irmão vivia olhando o mundo pela janela do carro. Um ano, sete meses e quinze dias. Era a diferença que tínhamos de idade, ele mais velho. Quando estava com dez meses teve que parar de mamar porque minha mãe ficara grávida de mim. Desde muito cedo disputamos a atenção dela. Quando ela ficava um pouco mais com meu irmão eu inventava logo um choro sem motivo, mas, que me rendia alguns instantes de vantagem. Sempre achei que o tempo ao seu lado era precioso, só não sabia porque, eu apenas sentia. Meu irmão também sabia disso e sempre tirou proveito de sua condição de primogênito para estar próximo dela. Herdei seu berço laqueado branco com protetores de algodão recheados de espuma. Aliás, herdei quase tudo que podia apesar de ser menina. Até cuecas eu usei por falta de calcinhas limpas. Junto com o berço vieram as grades e a desvantagem de precisar sempre de alguém para me desvencilhar delas. Meu irmão ganhara uma nova cama pintada de branco lavado, uma espécie de pintura aguada que precisava de um nome que lhe rendesse presença nas boas lojas de móveis e que esteve na moda durante alguns anos de nossa infância. Trinta e dois centímetros do chão eram os únicos obstáculos que o separavam da liberdade. Ele escapava toda noite e se metia, fingidamente sonâmbulo, por entre minha mãe e meu pai. Tinha o estranho hábito, que hoje sei bem que não era nada estranho, de se deitar atravessado na cama. A cabeça encostada em minha mãe e os pés, principalmente os calcanhares, divididos entre os olhos, o nariz e a boca de meu pai.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Outras palavras

Uma brisa

 

A vida é uma brisa que sai pelas narinas,

Morna e profunda nos sonhos juvenis,

Seca e ofegante nos trêmulos passos da subida,

Acre e ocre nos bigodes branco neve.

 

A vida é uma brisa que sai pelas narinas,

Gasta na contagem regressiva do suicida,

Aguda no esforço muscular da pneumonia

Invisível no intervalo opressor de uma apnéia.

 

Siul Rasec (14.06.2007)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Estado de alerta



Em criatividade, quando tratamos da solução de problemas, uma importante etapa para alcançar bons resultados é conhecida como incubação. É uma fase posterior à definição e elaboração da situação problema e é apontada por vários autores como sendo uma fase inconsciente do processo criativo. Entretanto, acredito que o êxito só é alcançado quando nos colocamos em estado de alerta para alcançar a solução da questão. É o que ocorre ao indivíduo que deseja trocar seu velho Fiat Palio por um tecnológico Citroen C3. Onde quer que ele vá só encontra modelos C3 pela frente. É impressionante como nunca havia percebido tantos carros daquele tipo em sua cidade. Na verdade os carros sempre estiveram lá mas o estado de alerta não havia sido acionado para a resolução daquele problema (a troca de carro). 
É nessa fase do processo que me encontro agora, em busca de soluções para definir algumas lacunas que ainda persistem em meu projeto. Liguei a chave de alerta e só enxergo C3 pela frente. Não, não estou trocando de carro. Tenho,  antes, um livro para escrever.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O dia depois do início

Após estrondoso lançamento, cheio de manifestações de apoio, comentários em blogs, twitters, facebooks, orkuts e sabe-se lá onde mais, volto para falar um pouco a respeito do projeto. 
Desde que concluí o mestrado, e já se vão uns anos, mudei minha relação com as palavras lidas e escritas. Durante anos usei a piada (sem graça) dos diretores de arte para justificar problemas nos textos das peças publicitárias e desobrigar-me da responsabilidade: – O texto para mim é só uma mancha!
Na pesquisa para construção de minha dissertação me vi cercado por caracteres textuais, ora nas minhas leituras, ora nas minhas escrituras. Terminei o trabalho, fiz a defesa, fui aprovado e nunca mais deixei que as palavras se afastassem mais que alguns pares de horas. Leio compulsivamente, escrevo menos, bem menos. Decidi, pois, equilibrar essa relação: escreverei um livro.
Que livro? Livro técnico? Design? Não. Mas isso é assunto para outro post, afinal serão mais de 700 pela frente. 

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O início de tudo



Tenho filhos, dois, lindos. Um menino, de 9 anos e, com pouco mais de 7 anos, uma menina de olhos claros como os da mãe, e os da mãe da mãe.
Plantei algumas árvores, uma ruma de pequenos arbustos, hortaliças, pés de pimenta, uma bananeira, meia dúzia de palmeiras, um pinheiro - ex árvore de natal - que virou um absurdo de árvore, e mais um sem número de outras espécies vegetais.
Faltou o livro. Ainda não escrevi um livro. 
Como professor escrevi uns capítulos. Como designer planejei quase meia centena de capas e mais meia centena de projetos gráficos. Como autor de projetos publiquei 6 títulos de uma coleção de livros sobre restaurantes. Mas, escrever eu não escrevi. Um inteirinho não.
Hoje completo 38 anos e resolvi iniciar o projeto que completará a tríade FILHO - ÁRVORE - LIVRO. Inspirado por um entrevista do cineasta Fernando Meirelles - que, cansado de fazer filmes publicitários, percebeu que precisava fazer um filme de longa metragem antes dos 40 anos de idade, ou não mais o faria - dou por inaugurada uma jornada de exatos 731 dias até o lançamento do livro que escreverei.
Posso ser acusado de leviandade, despreparo, insensatez. Assumo os riscos.
O projeto inclui a documentação e publicação de fotos minhas (posts diários) e produção de material em vídeo (publicado de tempos em tempos).
É isso. Vamos em frente.