segunda-feira, 25 de maio de 2009

A morte em branco e amarelo

O branco dos cabelos escorridos que pendiam do topo daquele rosto plácido, que os males hepáticos tingiram de amarelo, encontrava um símile cromático nos chumaços de algodão que tapavam as narinas. Brancos também eram os lençóis curtos, infantis, que lhe cobriam parte de tronco e lhe expunham as veias e as manchas escuras e os pés inchados, disformes. Amarelos eram os rostos dos que lhe entoavam canções sacras e preces arrastadas, sentidas. Branco era o espaço imaginário, celestial, que os presentes reservavam para aquela que lhes deixara horas antes. Amarela, covarde, vil, abafada. Tão covarde que ela, a morte, não acompanha aquele que fenece, mas persegue aquele que permanece, sem norte, fodido.

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