sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vinho barato

Acabo de voltar do jantar de uma confraria da qual faço parte e que promove, regularmente, encontros mensais. Os comensais confraternizam-se, alcoolizam-se, riem-se e sorvem-se por trás de olhares fundos, inclusive para os fundos. É de praxe que os convivas assentem ao recinto de posse de uma (ou mais, preferencialmente) bebida que se harmonizará com o menu a ser ofertado pelo anfitrião da vez. Passo, a caminho do encontro, em uma delicatessen, ou seria um empório?! Não, passo mesmo numa padaria de nenhuma categoria e, na maior cara de pau, pergunto pela prateleira de bebidas. Resisti a solicitar a carta de vinhos, seria rudeza de minha parte. 
Corro a vista por três ou quatro garrafas de qualidade aceitável e escolho a mais barata, um Cabernet argentino. Apanho uma coca-cola de dois litros para as crianças e no balcão de salgados peço meia dúzia de pães de queijo. Estranho quando a balconista me pergunta, já ensacando meu pedido, se é para beber. Mas em segundos ela esclarece: – quando pede assim pouquinho é para criança. Então percebo que não era para beber e sim para bebê. Que culpa a minha.
Meu vinho é recebido como o destaque da noite, e guardado para ser servido após aquelas tantas garrafas de vinhos comuns. Todos, com exceção de um Marcus James malandrão, melhores que o meu.
O menu, aberto por rodadas de fondue, com intervalos para manutenção das traquitanas de cocção, é fartamente deglutido pelos confrades. Quando à altura dos serviços de sobremesa, meu vinho é aberto, não sem antes sofrer com a falta de habilidade no manuseio do saca-rolhas cibernético, e passo, então, a saborear uma taça do mesmo, evitando qualquer daquelas viadagens de avaliar a lágrimas do vinho, seu bouquet ou qualquer dessas merdas que o valha. Achei péssimo. Me levantei com a taça nas mãos, fui até a cozinha, derramei seu conteúdo na pia e, após um rápido jato d'água, enchi com a boa, velha e infalível coca-cola.

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